Continuação do Capítulo 9 - Festa de Halloween
Era uma bela mulher. Alta, esguia,
de pele muito branca e longos cabelos negros escorridos. Trajava um longo
vestido branco de um tecido leve, possuía ao redor da cintura uma corda ou
cordão também branco amarrado e sobre a cabeça uma coroa de flores. Parecia uma
fada.
Em frente ao grão-mestre, a poucos
passos da banheira, alguns dos magos a escoltaram e despiram-na totalmente de
suas roupas, permanecendo apenas a coroa de flores silvestres que realçava a
beleza de sua nudez feminina. Os mantras ainda eram entoados mecanicamente; enquanto
um dos cavaleiros negros levava para longe as suas vestes, outros dois a escoltaram
e auxiliaram-na a subir a pequena escada. Pela desenvoltura da moça, deveria
ser uma das atrizes também.
Soou um gongo e os cânticos
cessaram. O que parecia ser o mestre supremo se aproximou, deu algumas ordens
inaudíveis para os outros presentes e a escada foi retirada e levada para uma
arca, junto das roupas e do turíbulo. Por entre os magos, era possível admirar
a moça se banhar no líquido que, agora contrastando com a brancura de sua
cútis, denunciava sua natureza vital. A jovem se banhava docemente em sangue
fresco.
Andréas cruzava os cômodos vazios
com certa desconfiança. Parece que ao ver seus planos dando certo, um oceano de
insegurança invadiu o litoral de sua certeza, inundando o que restava de seu
coração de um medo aparentemente sem motivo. Mas tudo tinha que sair perfeito.
Sempre perfeito. O senhor das sombras não admite senão.
Desceu as escadas, passou pela
sala sentindo ainda o espírito da multidão. Parou, pensou, abaixou a cabeça por
um pequeno instante, fechou os olhos, inflou o peito de ar e seguiu em direção
aos adornos metálicos da entrada principal do salão de festas.
- x -
O público se entreolhava, soltava
alguns murmurinhos, enquanto o grão-mestre, que assim como muitos, admirava o banho
da jovem, parou, abaixou a cabeça e sorriu. De sua garganta se pode escutar uma
frase singela, pronunciada por uma voz firme, mas de timbre suave.
- É chegada a hora.
Neste momento os cavaleiros
colocaram a destra por dentro de seus mantos e sacou cada um seu punhal de
lâmina flamígea, erguendo-os com as duas mãos por sobre suas cabeças, esquecendo
a bela moça a se banhar, não mais permanecendo em círculo, mas em duas colunas,
voltados para a porta principal.
À frente deles, pelas sombras de
seu capuz o mestre esperou.
As portas se escancararam e a
passos largos Andreas avançava em direção aos magos. Parou a certa distância
deles e olhou para a figura que o aguardava na banheira. Como que por encanto a
jovem Elizabete preservava nos lábios seu sorriso satânico, sinal de que sua
magia estava sendo sustentada a contento.
- Selatus! – Pronunciou fortemente
Andréas fazendo as portas se fecharem, arrancando algumas palmas dos convidados
e um sorriso de seus lábios.
- Vejo que prepararam uma surpresa
para mim.
A resposta do mago-mestre foi
apenas um aceno de cabeça. Andréas se aproximou da banheira e ritualmente os cavaleiros
negros retiraram suas roupas também. Ele entrou sozinho na banheira fixando os
olhos desejosos sobre a mulher a sua frente.
O mago abriu um sorriso, pois
Andreas havia caído em sua armadilha.
Andréas arregalou os olhos e
tentou se virar para confirmar o que seus sentidos o haviam alertado, mas a
mulher na banheira agarrando seu braço impediu-o de virar.
- Esquece ele querido, você tem a
mim agora!
- Me solta, já tenho problemas
demais, vadia! – e desferiu um sonoro bofetão, virando o rosto da mulher para
trás.
Quando a mulher se virou de volta,
seu rosto estava completamente transfigurado. Seus olhos amarelos pareciam mais
fundos e mortais, seus músculos faciais estavam fortemente contraídos e no
lugar de dentes, enormes presas...
- Adoro homens violentos...
Nenhum comentário:
Postar um comentário