Ao que parecia, alguns atores
haviam sido contratados para animar a festa. Dispersos entre os convidados,
conversando com eles e entre si, em determinado momento iniciaram performances
macabras, simulando mortes de outros atores, para entreter, assustar, divertir.
E as performances se iniciaram
quase que simultaneamente em diversos pontos da casa, fazendo com que
praticamente todos os convidados se reunissem para participar ou assistir, em
volta dos focos de atenção. Algum tempo depois, os grupos se direcionaram para
uma sala que até então parecia estar trancada. Na verdade, quem conhecia a
residência, sabia que aquele era o salão de festas. Mas, mesmo para estes, ele
estava irreconhecível. A decoração da sala havia transformado o recinto em um
verdadeiro templo de magia negra.
Ao centro um grande recipiente em
formato circular, que lembrava uma banheira de hidromassagem ou um ofurô, estava quase que completamente
tomado por um líquido espesso e viscoso de coloração escura. Parecia também que
algumas ervas (ou algo assim) flutuavam em sua superfície mal iluminada.
Os convidados, que agora estavam
de mãos dadas, puxados por um ou outro se dispuseram na periferia do ambiente,
muito próximos das altas paredes de mármore negro. Com a lareira acesa ao
fundo, e as chamas fulgurantes e bruxuleantes, que aqueciam e iluminavam, de
maneira precária o salão. Bandeiras de um luxuoso tecido vermelho com símbolos
arcanos desenhados em negro em mastros de metal dourado completavam a decoração
das paredes.
As janelas de vitrais circulares
que antes levavam os brasões das duas famílias que se uniram há séculos, agora
ostentavam mandalas. Auxiliando a
iluminação, estavam dispostos enormes castiçais de metal envelhecido que
continham velas grossas, sempre escuras ou vermelhas, que formavam com seus
restos de cera transmutada, esculturas amorfas.
No lado oposto a lareira, as
pesadas portas de madeira entalhada se abriram como em um passe de mágica,
dando passagem a uma dezena ou mais de cavaleiros encapuzados em seus mantos
negros. O primeiro deles trazia um turíbulo prateado e com ele passou diante
dos convidados, fumegando uma fumaça amarelo-esverdeada, exalando um forte odor
sulfuroso.
Passaram então a entoar cânticos e
mantras, que as pessoas desconheciam a língua e o significado, mas repetiam com
fervor em nome da diversão. A fumaça das velas e do incenso maldito começava a
se acumular no ambiente, formando pesadas nuvens na cúpula da então catedral
infernal, como se anunciassem um dilúvio.
Os magos negros se dispuseram em
círculo em torno da banheira, deixando um espaço onde podia ser percebida uma pequena
escada de três degraus. O mago que passou fumegando o recinto, havia se livrado
do turíbulo e agora acabara de se dirigir a um dos grupos que assistia a encenação
da cerimônia.
Uma das pessoas que bebia um pouco
de vinho displicentemente foi retirada do círculo que se formara pelos
espectadores e levada por ele em direção ao centro onde os outros magos aguardavam.
Continua na próxima semana...
Curiosidades: "Festa de Halloween" foi escrito originalmente para um conto coletivo da lista de discussão Cryacontos em parceria com outros autores como Tetsuo, Isadora Garrido e Mônica Virgo. Originalmente recebia o nome de "O Ritual", mas foi adaptado para se integrar a Olhos Verdes Cristalinos e valorizar ainda mais a personagem Liza. Acompanhe agora a continuação em "A Noite (2)"
Isto não bastou para satisfazer a sua curiosidade? Então compre agora mesmo o seu exemplar de Olhos Verdes Cristalinos.
Acesse a página de Olhos Verdes Cristalinos e acompanhe todos os capítulos publicados.
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